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A revolta de Mendes Norton de 1935

01 Novembro 2010

MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de - A revolta de Mendes Norton de 1935. Cadernos Vianenses. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo. Tomo 44 (2010), p. 257-293.

Introdução

Manuel Peixoto Martins Mendes Norton (1875-1967), natural de Viana do Castelo, teve um percurso militar - profissional brilhante, com provas dadas. Foi o caso da organização do serviço de socorro ao naufrágio do paquete inglês "Veronese" (1913); o grande impulso que deu à obra de farolagem, deixando a costa portuguesa de chamar-se a "costa negra" (1918-1929); a participação e colaboração na revolta monárquica de Monsanto (1919) e na revolução de 28-5-1926; a organização da Conferência Internacional de Farolagem em Lisboa (1930), etc. etc. Ativista político empenhado, foi o principal chefe operacional das revoltas de 20-5-1935 e da revolta «Mendes Norton» de 10-9-1935, esta última considerada por Medeiros Ferreira, uma das mais importantes revoltas militares entre 1933-1961, que ousaram agitar o Estado Novo. Foi também, uma das figuras de maior relevo do governo dos generais António Óscar Fragoso Carmona-Sinel Cordes (de 9-7-1926 a 18-4-1928), e a este propósito George Guyomard, considerava Mendes Norton, então Capitão de Fragata, um dos quatro homens que detinham o verdadeiro poder político em Portugal.

Até 1934, Mendes Norton está com o regime, tendo aliás sido amiúde nomeado para diversos cargos e comissões de serviço; a partir de então e à medida que se acentua o autoritarismo politico, demarca-se da situação e revela-se um opositor feroz ao regime de Oliveira Salazar, tendo sido consequentemente exonerado dos inúmeros cargos e comissões que detinha, bem como lhe foi negado o requerimento em que pedia para fazer o tirocínio para o posto de Contra-Almirante.

A revolta «Mendes Norton» de 1935, fracassa para os respetivos protagonistas e particularmente para o núcleo liderado pelo Comandante Mendes Norton, uma vez que o assalto ao navio "Bartolomeu Dias", acaba por ser descoberto antecipadamente. Este malogro, deveu-se também à falta de coordenação entre as diversas unidades militares de ação, visto não terem sido emitidos os respetivos sinais do quartel da Penha de França, para se dar início ao movimento. Embora tenha sido afastado e demitido da Armada, continuou a receber o ordenado integral na caixa do correio, até a sua reintegração em 1951. Entre outras hipóteses para o pagamento desta remuneração, suspeita-se poderem ser outros implicados nesta revolta ou alguns contra-almirantes, que haviam dado o seu apoio a este movimento ou o próprio Estado, devido aos relevantes serviços políticos, diplomáticos, militares, humanitários e técnicos por ele prestados ao País.

Quando do seu julgamento no Tribunal Militar de Santa Clara em 20-11-1935, foram por sua vontade dispensadas as testemunhas de defesa e contestou em nome próprio as acusações de que era alvo, tendo assumido inteira responsabilidade pelos atos praticados. Fê-lo, explicitando e reforçando a convicção própria de estar a prestar um serviço à Pátria «libertando-a de uma situação que refutava grave e humilhante para o povo português», aos quais eram vedadas as liberdades politicas e individuais (de expressão e de associação).

É este o homem, que foi condenado a oito anos de degredo em Cabo Verde e perda de direitos políticos por dez anos.

Pelos princípios, integridade humana, coerência, força de espírito e convicção, que o levaram a não desistir dos seus ideais, propósitos e lutas, deve ser englobado naquele grupo minoritário de indivíduos, a quem se deve algo pelo avanço do País e conquista de futuras liberdades. O presente artigo que se apresenta, constitui parte da dissertação de Mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais, de que prestei provas públicas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa em 5 de julho de 2005.