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Cristóvão Pereira de Abreu (1678-1755)

Militar e Comerciante de gado no Brasil. Tropeiro, foi um dos principais contribuintes para a integração territorial do Rio Grande do Sul no Brasil.

Figura proeminente na história do Sul Brasileiro, Cristóvão Pereira de Abreu nasceu na freguesia de Fontão, em Ponte de Lima, em 13 de julho de 1678, sendo filho de João de Abreu Filgueira (que mais tarde passou a assinar João de Abreu Figueiredo) e de sua mulher Leonor de Amorim Pereira, moradores naquela freguesia, no lugar de S. Cristóvão. Cristóvão Pereira de Abreu atravessou o Atlântico, ainda muito novo, e dedicou-se ao negócio da extração, aquisição e comercialização dos couros bovinos na Colónia do Sacramento, integrando-se na principal atividade económica daquela região.

  • O retrato de Cristóvão Pereira de Abreu
    O retrato de Cristóvão Pereira de Abreu, que se apresenta, não é real, tendo sido imaginado para uma edição do Jornal Cruzeiro do Sul, que evocou a sua memória quando, em 2004, a cidade de Sorocaba, no Estado de S. Paulo (Brasil), comemorou 350 anos.

Assegurando o contrato dos quintos dos couros, Cristóvão Pereira de Abreu singra no negócio, apenas ligeiramente abalado durante o período em que a Colónia do Sacramento permanece sob domínio espanhol. Note-se que o território sente repercussões da Guerra da Sucessão de Espanha, patente nas hostilidades no Rio da Prata, que são debeladas após a assinatura do Tratado de Utrecht (1713-1714), com a devolução a Portugal da Colónia do Sacramento.

Em 1708, casa no Rio de Janeiro com D. Clara Maria Apolinária de Amorim, descendente de uma ilustre família fluminense, integrando-se nas elites políticas e económicas locais. Entretanto, arremata os direitos dos dízimos sobre o tabaco daquela cidade, no triénio iniciado em 1707. Por esta altura, recebe o Hábito da Ordem de Cristo. Alguns investigadores brasileiros atribuem uma participação de Cristóvão Pereira de Abreu na Junta constituída para decidir do resgate que deveria ser pago aos franceses que tomaram a próspera cidade do Rio de Janeiro, em 1711, sob comando de René Duguay-Trouin. Interessado nas riquezas da cidade, o corsário levou o fruto das pilhagens e um elevado resgate, onde se incluíam duzentos bois.

  • Mapa das Fazendas povoadas de gado
    Mapa das Fazendas povoadas de gados, no Rº grande de S. Pedro, athe hoje 13 de 8brº de 1741, onde consta, nas Fazendas da parte do Norte, o nome de Cristóvão Prª, com 160 vacas e 410 éguas (gravura da época)

Cristóvão Pereira de Abreu, a par da sua atividade no negócio dos couros e no exército de Sua Majestade, consolida e beneficia da teia de relações sociais que inclui parentes e amigos na região de Buenos Aires, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Entre outros, gozou da amizade de Gomes Freire de Andrade, Governador do Rio de Janeiro.

Depois da morte de sua mulher, em 1719, regressa ao Sacramento. Na década de vinte do séc. XVIII, Cristóvão Pereira de Abreu desloca o seu interesse para o transporte e comercialização de animais, que são conduzidos por rotas terrestres. No encalço do empreendimento iniciado por Francisco de Sousa e Faria, responsável pela abertura do ‘Caminho dos Conventos', por ordem do Governador de S. Paulo, Cristóvão Pereira de Abreu retifica aquele roteiro e estabelece uma ligação mais curta entre Sacramento e S. Paulo, designada por ‘Real Caminho de Viamão'. Estávamos na transição da década de vinte para a década de trinta, quando este limiano, desbravando terras e construindo pontes, cria um trilho que garantia um fluxo constante e regular do gado cavalar, muar e vacum entre a região do Rio Grande do Sul e S. Paulo. Habitualmente designado como ‘caminho tropeiro', esta ligação contribuirá para a integração geográfica e económica daqueles territórios coloniais, alimentando as feiras de Sorocaba e, dessa forma, satisfazendo a necessidade de gado, para o trabalho e para o transporte, dos produtores de cana-de-açúcar e dos mineiros do Sudeste Brasileiro. Correlacionado com a exploração do ouro, este roteiro comercial originará a formação de núcleos populacionais, como Santo António da Patrulha, São Francisco de Paula e Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria, que se afirmam em detrimento de Laguna. Em 1737, o Coronel Cristóvão Pereira de Abreu, juntamente com o Tenente Francisco de Sousa e Faria e o Capitão Domingos Gomes Ribeiro, colaboram com o Brigadeiro José da Silva Pais na instalação do forte Jesus, Maria e José no Rio Grande, que estará na origem do povoado de Rio Grande de São Pedro, elevado a vila em 1747.

  • Farol Cristóvão Pereira de Abreu, construído em 1886 na Lagoa dos Patos
    Farol Cristóvão Pereira de Abreu, construído em 1886 na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul (Brasil), assim designado para homenagear este tropeiro (Fot. - a.d.)

Em maio de 1747, como remuneração pelos seus serviços, é concedida ao tropeiro Cristóvão de Abreu a mercê de metade dos direitos que pagavam os gados e cavalgaduras que entravam na Capitania de S. Paulo, pelo registro de Curitiba, por um período de doze anos. Os seus cabedais aumentam, incluindo-se no rol dos seus bens a Fazenda de Cimo da Serra e propriedades em Montevideu e Minas Gerais.

  • Capela de S. Cristóvão, na freguesia de Fontão
    Capela de S. Cristóvão, na freguesia de Fontão, em Ponte de Lima, próxima da quinta do mesmo nome, onde Cristóvão Pereira de Abreu terá nascido

Morre em 1755, na vila de Rio Grande, no decurso da expedição realizada com o fito de demarcar os limites do Tratado de Madrid (1750). Este tratado procurou definir com exatidão a fronteira entre os territórios dominados pelas potências portuguesa e espanhola naquela área sul-americana. Alexandre de Gusmão, Secretário do Rei, seu principal negociador e obreiro, procurou assegurar a posse do Rio Grande do Sul, reconhecendo a relevância económica, política e estratégica daquele território.

  • Retábulo seiscentista
    Retábulo seiscentista, em cantaria de granito, lavrada e policromada, da capela de S. Cristóvão.

Tem o seu nome atribuído, desde 1985, a uma Rodovia (RS-030, do Distrito de Vista Alegre à cidade de Tramandaí), a uma Escola Estadual e a um Farol (construção do séc. XIX, nas margens da Lagoa dos Patos), tudo no Estado do Rio Grande do Sul e ainda a um arruamento urbano na cidade de Sorocaba, no Estado de S. Paulo. E na sequência destas homenagens correram diligências, que ainda não se concretizaram, para a geminação da vila de Ponte de Lima com uma cidade daquele Estado do sul do Brasil.

  • Assinatura de Cristóvão Pereira de Abreu
    Assinatura de Cristóvão Pereira de Abreu. Esta foi recolhida num documento do Arquivo da Casa de Bertiandos, datado de 1729 e redigido em seu nome, referente ao emprazamento de umas terras foreiras à Ordem de Cristo. Contudo, não é seguro que seja um autógrafo, uma vez que se trata de uma petição que pode ter sido apresentada por um seu procurador.

José Carlos de Magalhães Loureiro


[*] A profícua investigação que o Autor levou a efeito sobre Cristóvão Pereira de Abreu, permitiu finalmente desmistificar esta Figura e apurar a sua identidade, confirmada pela concatenação de diversas informações avulsas que, só aparentemente, com ela se relacionavam. Seu pai, João de Abreu Filgueira (ou Folgueira), tendo já perto de cinquenta anos, participou ativamente na Guerra da Sucessão de Espanha, em diversos recontros nas fronteiras do Minho, da Beira e do Alentejo e incorporou o exército do Marquês das Minas que tomou Madrid em 1706. Era oriundo do Morgadio da Senhora da Penha, de Pedregais, no antigo concelho de Portela das Cabras (hoje Vila Verde) e aparentado com as principais casas nobres da Gemieira, Gondufe e Beiral de Lima. Felgueiras Gaio, no seu Nobiliário de Famílias de Portugal, no título ‘Costas', § 65, afirma que na descendência de Leonel de Abreu Folgueira, da Quinta do Pombal, na Gemieira, houve militares de alta patente em S. Paulo (Brasil) e em Montevideu. Haverá aqui alguma confusão com Cristóvão Pereira de Abreu? A mãe, Leonor de Amorim Pereira, era filha natural de Cristóvão Pereira de Amorim, muito provavelmente relacionado com a Casa Grande de Fontão, que foi depois incorporada no Morgadio de Bertiandos.

Cristóvão Pereira de Abreu tinha, pelo menos, seis irmãos e irmãs. Um deles, Francisco Pereira, acompanhou o pai nas campanhas da Guerra da Sucessão, acabando morto em 1707, com vinte e três anos, na decisiva batalha de Almanza, sendo já Ajudante de Cavalaria. Pelos serviços prestados pelo pai e irmão, Cristóvão Pereira, estando no Brasil, recebeu em 1709, com dispensa ‘de genere' (ANTT, Habilitações para a Ordem de Cristo, nº 12, nº 76) uma tença de cinquenta mil réis, incluindo doze mil à conta do Hábito de Cristo, que lhe foi lançado, e quatro mil para dotar sua irmã Leonarda de Amorim Pereira (carta de 2 de maio de 1709, no ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João V, Liv. 3, fl. 178 vº). Alguns anos depois, por alvará de 18 de maio de 1722, recebe o foro de Cavaleiro Fidalgo (ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João V, Liv. 3, fl. 473 vº) e mais tarde, por Provisão de 28 de abril de 1747, a metade dos direitos que pagavam os gados pela entrada em S. Paulo.

Do seu casamento, em 1708, com D. Clara Maria Apolinária de Amorim, pertencente a uma ilustre família do Rio de Janeiro, terão nascido, pelo menos, uma filha, Leonor (casada com Miguel Gonçalves de Siqueira, Intendente do Distrito do Serro do Frio, rico fazendeiro e contratador de diamantes, falecido em 1751 na sua Fazenda do Resfriado, no Arraial de Santo António de Itacambira, na Demarcação Diamantina, com geração) e um filho, António, este nascido em 1718, tendo D. Clara falecido no ano seguinte. Há também referências, que não foi possível confirmar, ao falecimento de Cristóvão Pereira de Abreu, em 22 de novembro de 1755, na Vila do Rio Grande de S. Pedro, hoje cidade do Rio Grande, ficando sepultado na capela de Nossa Senhora da Lapa (Nota do Coord.).