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Miguel Roque dos Reis Lemos (1831 – 1897)

Historiógrafo. Latinista. Paleógrafo. Autor dos "Anais Municipais de Ponte de Lima".

Miguel Roque dos Reis Lemos nasceu em Viana, a 15 de novembro de 1831. Era o nono dos onze filhos de António dos Reis Lemos, Escrivão e Tabelião do Público, Judicial e Notas naquela vila, e de sua mulher D. Maria José das Dores de Sousa, aí moradora na rua de S. Sebastião.

  • Retrato de Miguel Roque dos Reis Lemos
    Retrato de Miguel Roque dos Reis Lemos. Pintura a óleo sobre a tela . (Casa da Caridade de Nossa Senhora da Conceição - Ponte de Lima).

Até aos dezoito anos frequentou a aula de latim em Viana, seguindo depois para Braga, onde cursou Filosofia Racional e Moral no Liceu daquela cidade. No ano seguinte aplicou-se em Teologia Dogmática no Seminário de S. Pedr o e depois em Teologia Moral no Colégio de S. José do Bombarral, no Patriarcado de Lisboa, onde entrou em 1851, com destino às Missões da China, tendo já recebido Ordens Menores.

Naturalmente por falta de vocação, desistiu da vida sacerdotal, fugindo do Colégio nas vésperas de receber Ordens Sacras. Embarcou para Viana, mas o barco em que seguia naufragou e Miguel de Lemos ficou perdido no mar, lançando mão a um qualquer salvado, que foi a sua tábua de salvação.

Por concurso público foi colocado em 1854 como Professor de Latim no Liceu do Porto, sendo depois, por Decreto de 17 de outubro do mesmo ano, despachado Professor de Gramática Portuguesa, Latim e Latinidade em Ponte de Lima, onde fixou residência por espaço de trinta e três anos, até ser transferido para o Liceu de Viana do Castelo.

  • Primeira página do primeiro número do jornal O Lethes
    Primeira página do primeiro número do jornal O Lethes, que se começou a publicar em Ponte de Lima em 3 de fevereiro de 1865, fundado por Miguel Lemos.

Foi um excelente professor e um profundo conhecedor do Latim, o que lhe permitiu traduzir diversos clássicos, entre os quais Tito Lívio. Fiado na sua publicação, que se gorou, ressentiu-se tanto do insucesso que destruiu o original, salvando-se apenas dois excertos que viriam a ser publicados em 1880 no jornal "Commercio do Lima" e outra pequena parte, que fora editada em 1867 na Typographia do Lethes, com o título "Traducção dos logares selectos da Historia Romana de Tito Livio para uso das escholas de Grammatica Latina e Latinidade". Tem, assim, esta brochura de 148 páginas, a honra de ser o primeiro livro publicado em Ponte de Lima. No tempo que lhe sobrava das suas actividades docentes, enquanto esteve em Ponte de Lima, passou a pente fino toda a documentação antiga das instituições desta vila, o que lhe permitiu coligir a informação necessária para escrever a sua história. Dois anos e meio, gastou-os com o cartório da Câmara Municipal, passando depois à Santa Casa, às Confrarias religiosas e até a muitos arquivos de casas particulares, como a do Marquês de Ponte de Lima, a que amiudadamente se refere nos seus apontamentos.

Com esta informação bem trabalhada, escreveu:

  • "Apontamentos para as Memorias das Antiguidades de Ponte do Lima á face do Archivo municipal" (1873).
  • "Indice alphabetico das Principaes materias dos Livros das Vereações do Archivo municipal de Ponte do Lima" (1873).
  • "Indice das Principaes materias contidas nos Livros dos Registros e das Correias do Archivo Municipal da Camara de Ponte do Lima" (1874) [encadernado, com o anterior, num só volume com a designação "Indice dos Registros"].
  • "Estudo para os Annaes Municipaes da Camara de Ponte do Lima" (1887).
  • Capa da Traducção dos Logares Selectos da História Romana de Tito Livio
    Capa da Traducção dos Logares Selectos da História Romana de Tito Livio para uso das escholas de Grammatica Latina e Latinidade, de Miguel de Lemos, publicado em 1866 pela Typographia do Lethes, em Ponte de Lima e que veio a ser o primeiro livro publicado neste concelho.

O seu empenho em desbravar o passado, envolveu-o também na arqueologia, pelo que levou a efeito algumas escavações no monte da Conceição, na Correlhã, local onde supunha ter sido o primeiro assento da vila. Mas a temática em que mais se distinguiu foi a paleografia, de que foi um exímio cultor. Utilizando cópias de antigos pergaminhos com diversos tipos de escrita, constituiu um códice com regras e abreviaturas correntes nas diferentes épocas, num total de setenta e quatro fac-similes, que intitulou: "Specimes de calligraphia dos séculos XIV, XV, XVI e XVII, copiados de pergaminhos e varios documentos, expressamente, para serem apresentados na exposição portugueza do Rio de Janeiro". Desta obra, que pertencia ao Instituto de Coimbra, foram publicadas algumas páginas em 1877, no Boletim da Real Associação dos Archeologos Portuguezes e em 1924, no Almanaque de Ponte de Lima.

  • Uma das muitas cópias paleográficas dos documentos antigos do Município de Ponte de Lima
    Uma das muitas cópias paleográficas dos documentos antigos do Município de Ponte de Lima, feitas por Miguel de Lemos, com a respetiva leitura atualizada. Exemplar publicado no Almanaque de Ponte de Lima de 1924

Colaborou em diversos periódicos, merecendo destaque "O Commercio do Lima", de Ponte de Lima; "A Aurora do Lima", "A Briza" e "Pero Gallego", de Viana; e "Commercio e Industria", de Lisboa. Em 1865 fundou o primeiro jornal de Ponte de Lima, "O Lethes", cujo primeiro número veio a público em 3 de fevereiro e se manteve durante sete anos e quatro meses, com tanta qualidade que Camilo se lhe refere na Maria da Fonte como "...um periodico chamado o ‘Lethes' em que avultavam artigos dignos de mais larga e intelligente esphera de leitores...". E participou nas principais iniciativas de carácter cultural que iam acontecendo, disponibilizando sempre a sua colaboração com outros autores, como aconteceu com José Augusto Vieira, no seu "Minho Pittoresco" ou com José Leite de Vasconcelos nos "Dialetos Interamnenses".

  • Primeira página do original manuscrito de Miguel Roque dos Reis Lemos, intitulado Estudo para os Annaes Municipaes de Ponte de Lima
    Primeira página do original manuscrito de Miguel Roque dos Reis Lemos, intitulado Estudo para os Annaes Municipaes de Ponte de Lima, concluídos em 1887. (A.M.P.L.)
  • Capa da 1ª edição dos Anais Municipais de Ponte de Lima
    Capa da 1ª edição dos Anais Municipais de Ponte de Lima, publicada pela Câmara Municipal de Ponte de Lima em 1938.

Foi eleito Vereador da Câmara Municipal de Ponte de Lima para o triénio 1887-1889, mas não chegou a servir o cargo. Foi Sócio Correspondente da Real Associação dos Arqueólogos Portugueses, do Instituto de Coimbra e do Retiro Literário Português do Rio de Janeiro, Membro Correspondente do Congresso Internacional de Antropologia e de Arqueologia Pré-Históricas e da Comissão dos Anais do Município de Viana e Vogal da Comissão dos Monumentos Nacionais.

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    Primeira página do Indice Alphabetico das Principaes materias dos Livros das Vereações do Archivo Municipal de Ponte de Lima.
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    Primeira página da cópia manuscrita por Justino Vaz Valente, do original de Miguel Lemos intitulado Apontamentos para as Memorias das Antiguidades de Ponte de Lima, feitos em 1873. (A.M.P.L.)

Miguel Roque dos Reis Lemos casou duas vezes - a primeira com D. Maria Isabel Lobão de Oliveira Reis e a segunda com D. Adelaide Cacilda Monteiro (tia paterna do escritor Delfim Guimarães), com larga geração do primeiro matrimónio. Faleceu em Viana em 19 de dezembro de 1897, tendo ficado a maior parte do seu espólio depositado no Liceu de Viana, onde foi professor e que consagrou uma sala à evocação da sua memória.

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    Assinatura de Miguel Roque dos Reis Lemos

João Gomes d’Abreu