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A nascente do Rio Lima: 25º aniversário da geminação Xinzo de Limia - Ponte de Lima

2009/01/11

COELLO, António Martinez - A nascente do Rio Lima: 25º aniversário da geminação Xinzo de Limia - Ponte de Lima. Município de Ponte de Lima: Ponte de Lima, 2009. p. 62. ISBN 978-972-8846-27-5.

  • Preço: €4,00 (inclui o valor da taxa de IVA legal em vigor)
  • Como encomendar: contacte-nos através do e-mail: arquivo@cm-pontedelima.pt 

Introdução

Carlos Francisco Martins Pinheiro

Os ponte-limenses têm usufruído através dos tempos de grandes benefícios, com a travessia das suas terras pelo rio Lima, nomeadamente práticas desportivas como canoagem, pesca, etc., assim como a pesca da lampreia.

Por isso mesmo o Instituto Limiano lhe dedicou uma exposição no verão de 1982, que despertou muito interesse, a avaliar pelo elevado número de visitantes e pelos atos culturais realizados. Intervieram também orfeões e grupos corais de Ponte de Lima e de outras regiões do país.

A estes atos culturais, comemorativos, assistiram as autoridades distritais e concelhias de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ayuntamiento de Xinzo de Limia e Deputados de Orense, bem como um representante da Fundação Calouste Gulbenkian, Dr. António Gonçalves.

Promoveu-se uma mesa redonda com a participação de especialistas, estudiosos e admiradores do Rio Lima, sendo moderadora a Dr." Isabel Maria Cardoso Aires, da Comissão de Coordenação da Região Norte (Porto).

Destaco a intervenção de um dos conferencistas, o Professor António Martinez Coello, a dar aulas então no Instituto Bachirelato de Xinzo de Limia, Orense, que versou o tema "A Nascente do Rio Lima", assunto que tratou com muito pormenor e qualidade.

Foi uma conferência muito interessante e exaustiva nos seus pormenores. Então, este conferencista publicou o seu trabalho no Arquivo Municipal, vol. III (1982). Agora pediu-me que colaborasse nesta nova edição, apresentando como motivo do convite a razão de que tinha sido eu quem, em nome do Instituto Limiano, o convidara. Aceitei e resolvi relatar alguns pormenores do trajeto do Rio Lima, incluindo algumas das suas enchentes nesse tempo em que residia em Ponte de Lima como pároco. Eis a razão desta minha intervenção.

Vou referir-me especialmente às grandes cheias do rio, servindo-me do que escrevera em "A Voz da Paróquia", de Ponte de Lima, do qual era Diretor:
- "A Cheia do Rio Lima", janeiro de 1960
(Voz da Paróquia)

"...Nesta quadra invernosa de raro furor as águas do Rio Lima por diversas vezes têm saído do leito normal, galgando a avenida marginal e o Passeio General Carmona, invadindo as moradias, pensões, tabernas e casas de comércio. Os seus moradores, sempre que desconfiam do aumento do volume das águas, põem todos os seus haveres a salvo, porque, no dizer engraçado do nosso povo.

Na noite de 25 para 26 de dezembro, porém, sem que alguém contasse, a não ser os mais vigilantes, começou a subir, ultrapassando o nível das enchentes dos últimos vinte anos, e ei-lo quase senhor de toda a vila marginal. (Conta-se que nesta noite da cheia um dos comerciantes que viu a sua loja inundada pelas águas, por várias vezes, teria exclamado, virando-se para o rio: "Ainda há quem te faça versos").
As comunicações, durante o dia 26, foram feitas por barcos, e a estrada da margem direita que liga esta vila com Viana do Castelo chegou a ser interrompida pelas águas. As veigas das duas margens mais pareciam o mar agitado.

Chegou mesmo a invadir as Igrejas da Misericórdia e da Matriz, o que aconteceu muitas vezes. Por isso o povo dizia que "o Rio Lima era cristão que ia à Igreja". Felizmente que a restauração por que passou a Matriz, tendo em conta as cheias, ficou à prova de água com pavimento em lajedo e canais de escoamento. Ao fim da tarde, temendo-se que subisse mais, retirou-se o Santíssimo, já de barco, das Igrejas da Misericórdia e da Matriz.

Para além de tudo o que havia de beleza e poesia, há um drama tristíssimo e de consequências graves. É uma população inteira que fica em estado de sítio, sempre na expectativa do que poderá acontecer e o comércio local fica com as portas encerradas, até em dias de feira, as mercadorias sujeitas a estragos, quando não à sua completa perda. E o grande perigo das enfermidades provenientes da humidade que se entranha nas paredes, no pavimento e móveis, e que permanece até vir o sol do verão, que nem sempre é suficiente ou não atinge as zonas inundadas. São vidas que estão em sobressalto e em perigo eminente, e algumas se têm perdido, são as sementeiras arrasadas e perdidas, colheitas que desaparecem, fruto de tanto trabalho e suor. Eis o triste drama que nos é dado observar, não uma só vez em cada vinte anos, mas muitas vezes em quadras da chuva, pois não é preciso cair chuva diluviana para o rio galgar as margens... "

- "O Rio inunda a parte baixa de Ponte de Lima"
(Voz da Paróquia, Fevereiro-Março de 1970)

" ... Todo o nosso concelho tem sido fustigado por um rigoroso inverno. Casas destelhadas, chaminés e árvores caídas, o Rio Lima ocasionando prejuízos e destruições nos estabelecimentos da parte de baixo da vila, a mais flagelada pelas cheias ... "
Nos últimos tempos, felizmente, o flagelo das cheias terminou. Segundo dizem, porque os responsáveis da barragem do Lindoso conseguiram dominar e orientar melhor as águas do Rio Lima.
Rio que com as suas cíclicas cheias (nas paredes da Torre de São Paulo estão assinaladas as grandes cheias de 1987 e de 1909) fertilizava as terras da Ribeira Lima, a merecerem estes versos de António Vieira Lisboa:
Sete vezes o rio há-de encher
E subir ao "Passeio" da vila.
Cada vez há-de ser lua cheia
Que ao descer o Passeio vigila.

Doze meses é quanto medeia
Cada ciclo dos tais que hão-de ser.
Sete vezes será lua cheia,

Sete cheias o rio há-de ter.
Sete vezes, não mais, nunca menos,
P'ra que o ano nos venha folgado...
P'ra que haja bons milhos e fenos,

- a fartura da gente e do gado! -