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Cartas de António Feijó a Luís Magalhães

2004/01/26

FEIJÓ, António - Cartas de António Feijó a Luís Magalhães. Lisboa : INCM, 2004. 2 volumes. ISBN 972-27-1140-7.

  • Preço: €35,00 (inclui o valor da taxa de IVA legal em vigor)
  • Como encomendar: contacte-nos através do e-mail: arquivo@cm-pontedelima.pt

Apresentação

Quando a Biblioteca Nacional adquiriu o espólio de Luís de Magalhães, a minha amiga e paladina de Antero, Ana Maria Almeida Martins, chamou-me insistentemente a atenção para a existência, neste espólio, de 739 cartas que António Feijó escreveu ao seu amigo Magalhães, e instou comigo para que as transcrevesse e as publicasse, o que agora faço, graças à Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Existem, também, no mesmo espólio as cartas de Magalhães para Feijó. Infelizmente, não posso publicá-las; não apenas - e seria suficiente - porque os anos que levo de vida já não são compatíveis com o esforço, como também a letra de Magalhães é de dificílima decifração. Aliás, numa carta, adiante reproduzida, Feijó troça da caligrafia do amigo.

Parece estranho que neste espólio apareçam as cartas de Magalhães a Feijó. Julgo, porém, que a explicação será fácil. Sabe-se que os filhos de Feijó, depois da guerra de 14-18, trouxeram da Suécia e entregaram a Magalhães os originais de Sol de Inverno e de Novas Bailatas, cuja publicação este promoveu. É natural que essas cartas viessem junto.

A amizade entre estes dois homens começou nos bancos da Faculdade de Direito - em data e lugar assinalados por Luís de Magalhães no prefácio, longo e sentido, que escreveu para a edição de Sol de Inverno - e durou até à morte de Feijó. Se entre eles se podem encontrar muitos pontos comuns - amor à literatura, interesse pela coisa pública e pelas pessoas -, muitos outros, nomeadamente políticos, os poderiam ter separado - mas nunca conseguiram.

Luís de Magalhães, filho do tribuno José Estêvão, senhor de uma bela propriedade num dos concelhos mais ricos do País - a Maia -, e António Feijó, oriundo de uma família com origens na Galiza e no Minho, família pouco abastada e de austeras tradições - aparentemente não haveria entre eles afinidade suficiente. Mas houve realmente e foi uma amizade para a vida.

Neste prefácio, que não quero longo, ocupar-me-ei sobretudo de Feijó tentando traçar-lhe um retrato, sabendo embora que o melhor retrato está na sua poesia - e nas suas cartas.

Natural de Ponte de Lima, onde nasceu em 1-6-1859, poeta e diplomata, formado em Direito pela Universidade de Coimbra, tentou sem êxito nem grande vontade a advocacia, tendo optado pela carreira diplomática, que o levou sucessivamente, como Cônsul, a Pernambuco e Rio Grande do Sul, como Encarregado de Negócios à Suécia, Noruega e Dinamarca e como Ministro Plenipotenciário a esses países escandinavos.

Estreou-se como poeta em 1882, com uma recolha de versos escritos entre os 18 e os 23 anos, que intitulou Transfigurações, onde a última composição é um longo poema, «Sacerdus Magnys», com que Feijó participou nas comemorações do III Centenário da Morte de Camões, alto momento cívico no Portugal dos finais do século XIX.

Para além das Transfigurações, publicou ainda Líricas e Bucólicas (1884), À Janela do Ocidente (1885), Cancioneiro Chinês (1890), Ilha dos Amores (1897), Bailatas (1907), tendo traduzido do sueco A Viagem de Pedro Afortunado, de Strindberg, e Viagem em Portugal, de Carl Kuders.

Postumamente foram editados Sol de Inverno (1922) e Novas Bailatas (1926).

O seu carácter conciliava uma hipocondria patente com um espírito divertido, que o levou, por exemplo, a inventar a quadrilha de assassinos «Os carecas de Faldejães» (2). Bon vivant, também Junqueiro e Eça lhe chamavam o «opíparo Feijó». Aliás, com Junqueiro, escreveu um longo poema, divertida narração de uma excursão turístico-gastronómica de Viana a Valença do Minho (3), onde que é patente o seu gosto pela vida gozada a pleno.

A veia irónica e mordaz traduziu-se também nas duas recolhas, Bailatas e Novas Bailatas, que assinou com o heterónimo Ignácio de Abreu e Lima, Senhor de Agra de Freimas. Prefiro heterónimo a pseudónimo, pois Feijó escolheu para este seu alter ego quase uma biografia no prefácio que escreveu para a primeira dessas obras.

A sua vida não foi fácil, já pela modéstia dos seus (os pais tiveram mais três filhos, um dos quais morreu já aluno da Universidade, outro formou-se em Direito e um terceiro abraçou a carreira militar, o que, naqueles tempos, como ainda agora, impunha pesados sacrifícios), como pela sua hipocondria, que lhe trazia períodos de profunda melancolia e agravava alguns problemas reais de saúde. O que não o impediu de ter as suas aventuras, de que há reflexos nestas cartas. Encontrou por fim, já na idade madura, o amor da sua vida na pessoa de uma belíssima senhora sueca - Mercedes Joana Leuwen - e a amargura terrível do seu desaparecimento prematuro.
(...)

Rui Feijó